
Você já deve estar sabendo da polêmica que aconteceu no Comic Con Experience deste ano, afinal, não se fala de outra coisa na internet. Dois repórteres do Programa Pânico (exibido todo domingo pela Band) entraram no evento para fazer uma matéria e, em meio a chacotas e comentários inóspitos, desrespeitaram cosplayers e apresentaram uma gravação completamente estereotipada.
No meio da matéria, os repórteres conversaram com Myo Tsubasa, que estava caracterizada de Estelar, dos Jovens Titãs. Segundo uma publicação da própria no Facebook, os repórteres simplesmente a puxaram para a entrevista, que se seguiu desrespeitosa e culminou em uma "lambida" em seu ombro. Em seguida, o repórter ainda fez um comentário infeliz sobre a própria cosplayer, que se distanciou das duas figuras comentando que "não havia graça no que eles estavam fazendo".
Vídeo da treta do Pânico com a cosplayer na CCXP que comentei ontem... pic.twitter.com/H5uHrwLwOS
— Я Play (@RenatoJG) 7 dezembro 2015
A publicação de Myo foi republicada inúmeras vezes, e o caso chegou a aparecer em grandes portais de notícia. A cosplayer disse que "não tinha palavras para o ódio e o nojo que bateram na hora [da lambida]", ressaltando a invasão de privacidade e a falta de respeito que aconteceu. Segundo Myo, ela havia se preparado por 3 horas para o cosplay, que seria usado no evento para ela se divertir, e que ela mesma estava evitando encostar nas pessoas para não sujá-las com sua tinta corporal.
Myo não foi a única que sofreu um caso de desrespeito com os repórteres. Na matéria completa, é possível ver ambos satirizando uma cosplayer de Padmé, além de um cosplayer de Capitão América e outro de Chucky. Se coloque no lugar desta galera, que investiu esforço de dinheiro no projeto, e após todo o tempo de preparação, é recebido no evento com comentários denegrindo sua aparência. Seria de estragar o evento, não?
A pergunta é: o que o Programa Pânico fazia lá? Estava muito claro que nenhum dos repórteres fazia a menor idéia do que estava acontecendo. Um deles comentou que Frank Miller era o criador do Batman, e ainda rolou uma grande vergonha alheia na tentativa de entrevista com o desenhista, falando qualquer coisa que viesse na cabeça.
Com a repercussão da matéria, o Omelete publicou uma nota de repúdio ao Programa Pãnico, o banindo do evento e citando como o programa foi "incapaz de lidar com o diferente, trazendo para dentro da CCXP seus preconceitos de gênero e seu franco desrespeito". O repórter do Pânico, Lucas Maciel, se pronunciou no Twitter a respeito do caso, assumindo o erro, pedindo desculpas e comentando que não era sua intenção constranger ou ridicularizar ninguém. Mas afinal: se a intenção do Pânico não era ir para "zoar", qual o real motivo de terem ido no evento, dado que estava claro que não havia qualquer pauta ligada com as atividades da feira.
Acontece que esta não é a primeira vez que programas de tom humorístico entram em um evento voltado ao público geek / nerd a fim de satirizar os cosplayers e o público geral. Quem se lembra de Leo Lins no Anime Friends 2014? O repórter também fez uma matéria com tom esteriotipado, e chegou a brincar com uma cosplayer insinuando que ela não estava bonita.
Aparentemente, o "The Noite" tem um grande apreço pela chacota com o ambiente nerd, porque isto aconteceu mais de uma vez.
Muita gente também achou errado o Pânico brincar com as cosplayers de uma maneira mais sensual. Só que isto já acontece nos eventos aos montes. Não é de hoje que YouTubers e outros produtores de conteúdo publicam vídeos em que promovem a sensualização e a pegação. A mídia geral não consegue explicar o que é o cosplay, e muitas vezes, acaba exemplificando de uma forma demeritada, como muitas reportagens que já apareceram em canais abertos. E como não lembrar de uma das reportagens do Uol, que ligou a atividade do cosplay com problemas de identidade?
A mídia ainda não sabe como se comportar com esta cultura, que para eles é nova. O problema é que eles sempre acabam tratando este universo como algo estranho, e no caso de programas como o Pânico, ridicularizando tudo e a todos. E não se engane: o caso do Pânico foi sim um caso de assédio, assim como muitas outras reportagens e filmagens estereotipadas.
Gosto de ir nos eventos para me divertir e para me sentir a vontade, afinal, o público é perfeitamente aceitativo com seus gostos e você não precisa ter vergonha deles. Mas enquanto este tipo de mídia estiver neles, ainda estamos sujeitos a sermos tratados como "um grupo de pessoas estranhas reunidas".